terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ética em política

Estreei-me no XXI congresso da JSD neste passado Fim-de-semana.

A minha secção (Oeiras) apresentou três moções, uma das quais eu fui autor. Esta, apresentada no grupo de trabalho sobre "Desenvolvimento Sustentável", foi aprovada por unanimidade, algo de que me orgulho. Defendi que a JSD deveria ter como uma proposta politica a nível nacional a criação de um Programa Nacional de Educação Ambiental. O meus companheiros concordaram. E fiquei muito satisfeito pela qualidade da discussão que se fez naquele grupo.

Mas, apesar disto, o congresso não me correu bem. Mas a razão pela qual não me correu bem não foi o facto de o candidato que me apoiava ter perdido, longe disso! Afinal, em politica tanto se perde como se ganha, apesar de continuar a acreditar em Carlos Reis. Aproveito para dar os sinceros parabéns a Duarte Marques, que certamente será um bom presidente.

O congresso não me correu bem pois assisti a atitudes por parte de certos companheiros meus que me meteram nojo. E ainda metem. Assisti, no pódio do Congresso, a insultos pessoais do mais baixo nível, da não discussão de ideias mas sim de pessoas. Assisti, por parte de alguns, a uma autêntica peixeirada.

Se antes não percebia o porquê dos jovens se afastarem da política, com intervenções que chamaram alguns de "preguiçoso", "cobarde" e com insultos dissimulados a familiares, agora entendo o seu alheamento. Fiquei desiludido com alguns companheiros meus, que até tiveram sucesso neste congresso.

Não digo nem nomes nem quem apoiavam (pois nada teve a ver com alguma candidatura, teve sim a ver com o nível do orador), pois isso seria descer ao nível deles. Mas quem lê este post e esteve lá sabe de quem falo.

Resta-me apenas, com mágoa profunda, fazer dois apelos:

A todos os militantes da JSD, que nunca tomem a atitude deplorável de insultar alguém só porque esta defende algo diferente que vocês, pois com cada insulto que lançam é mais um jovem que se afasta da política e mais um reforço da teoria de que os políticos não passam de cães a um osso;

Aos "companheiros" que fizeram essas intervenções que pensem duas vezes antes de a fazerem, e se mesmo assim a fizerem que pelo menos façam isto: virem o busto de Sá Carneiro ao contrário, pois certamente ele não gostaria de ver que existem no seu próprio partido, na sua juventude, pessoas que fazem política sem ética e não acham que seja uma vergonha.

Existe uma JSD de respeito. Viva essa JSD!

Sobre a Revisão Estatutária

No último Congresso Nacional da JSD, foi aprovada uma revisão aos estatutos nacionais da estrutura, importantíssima para a modernização da Juventude Social-Democrata, eficiência interna e, sobretudo, para uma maior abertura à sociedade civil.
A revisão estatutária foi feita num sentido muito positivo e fez face a vários problemas existentes, tornando a JSD uma organização mais moderna e próxima dos jovens. Algumas dessas alterações foram ao encontro de algumas ideias minhas (perfilhadas por muitos outros militantes), algumas delas dadas de forma informal, por exemplo, na blogosfera, outras que fiz chegar a quem de direito e em sede própria.
Destaco, uma sugestão que fiz, de acabar com a expulsão definitiva na JSD. Propus que ao invés dessa punição que, inclusivamente, me deixa dúvidas de índole constitucional, se permitisse que o militante expulso pudesse voltar a ser militante decorridos 5 anos da sua expulsão, no caso de aprovação pelo Conselho Nacional. Foi com agrado, que vi essa proposta figurar nesta revisão estatutária. Abre-se uma janela de oportunidade para o reingresso, por exemplo, do companheiro Bernardo Maria, cuja imputação dos direitos e deveres de militante da JSD é da mais elementar justiça.
Outra proposta que defendo há muitos anos é a livre militância. Fiz uma moção aprovada em Conselho Distrital, ainda durante a liderança do Bruno Ventura. No XX Congresso Nacional levei essa questão ao grupo temático em causa e anexou-se essa proposta a uma moção global na altura elaborada pelo blogue “Psicolaranja”. A moção foi aprovada nesse congresso e nos últimos dois anos, trilhou-se o caminho necessário para se chegar a essa aprovação. Não foram, no entanto, acolhidas as minhas sugestões de limitação de eventuais efeitos negativos desta medida. Pelo menos, não todas. Está nos estatutos a obrigatoriedade de permanência durante 3 anos na mesma secção, mas não está, a quota de 2/3 de militantes da (actual) área de secção que poderia fazer face à descaracterização das secções. Sendo uma medida exclusivamente para os militantes menores, sabe a pouco. Mas é um bom início.
Uma outra proposta em sentido muito positivo é a incompatibilidade entre o exercício de Presidente de um órgão executivo com a presidência de outro órgão executivo, aplicando-se o mesmo aos secretários-gerais. Parece-me elementar, que alguém que é presidente de uma secção, não deva poder ser presidente de uma distrital. Contudo, neste ponto, julgo se deveria ter ido mais longe. Senão me parece mal que um presidente de secção possa ser, por exemplo, vogal de uma CPN ou Secretário-Geral de uma Distrital (agora Regional), em especial, nos casos das Distritais mais pequenas, onde, manifestamente, seria difícil formar Distritais se o regime de incompatibilidade fosse total, já me parece descabido que um membro de Distrital possa também ser membro de Nacional. Ninguém acredita que, por exemplo, um Vice-Presidente de Secção que é também Secretário-Geral de uma Distrital possa ainda ir desempenhar com enorme qualidade e isenção o lugar de vogal de uma CPN. Eu teria postulado, a incompatibilidade de acumulação, em qualquer lugar, de três lugares em orgãos executivos (exemplo: Presidente de Secção, Vice-Presidente Distrital, Vogal CPN) e a acumulação de lugares entre Distrital e Nacional, isto é, permitir-se apenas a acumulação de lugares nas Secções e nas Distritais (sem ser o de Presidente e Secretário-Geral) ou de Secção e CPN.
Nas tarefas fundamentais, aparece a promoção de uma classe política responsável, que também havia sugerido em sede própria. Quanto à marcação de eleições todas no mesmo mês, em Janeiro, eu acho que é uma boa ideia, mas que em vez de um período único deveriam existir dois períodos. Por exemplo, eleições para as Secções em Janeiro ou Junho dos anos pares. Por uma razão: Com a limitação de mandatos, poderemos ter 80 ou 90% das secções a mudarem de presidente ao mesmo tempo, razão pela qual, mudando todas ao mesmo tempo, e existindo sempre um período de adaptação do novo presidente, poderemos ter um período de 5 ou 6 meses de paragem total do país, ao nível das secções. Com o desfasamento em dois períodos este efeito seria minimizado.
Sobre a limitação de mandatos, concordo, mas considero que na redacção deveria ter sido acrescentado um novo número. Cumpre clarificar se existe consideração de que uma Comissão Política Distrital e uma Regional são o mesmo órgão, e o mesmo relativamente à Secção e ao Núcleo (ou à Secção e à Concelhia – aqui é mesmo muito difícil de perceber o espírito do legislador). Porque, observemos o seguinte caso prático: Um Presidente de Secção tem eleições em Dezembro. Em Dezembro, com apenas um mês, findará o seu primeiro mandato. Supondo que existem Concelhias em Abril, termina aí o seu segundo mandato porque é extinto o órgão secção. Novas eleições: Se a secção for equiparada ao núcleo e esse presidente de secção quiser ser candidato ao núcleo, entraria em Abril no seu terceiro mandato, não se podendo recandidatar (em Janeiro de 2012 – se for por aí a uniformização). Ou seja, no período de dois anos e um mês o presidente de secção esgota os seus três mandatos. Por isso eu tinha sugerido, que em vez de três mandatos, e já que existirá período eleitoral único, seria preferível dizer-se que não pode ser presidente do mesmo órgão durante 6 anos. E especificar-se, que se considera a Comissão Política Distrital o mesmo órgão que a Comissão Política Regional (ou não) e a Secção o mesmo órgão que o núcleo ou do que a Concelhia.
Outro ponto que me parecia muito importante era o fim das inerências. É talvez o mecanismo da JSD que menos percebo. Acho que faz sentido as inerências presenciais, por exemplo, um membro da CPN em funções deve poder ir a Congresso e até discursar (até porque é ai que se avalia o trabalho da CPN que cessa mandato), mas não faz qualquer sentido que possa votar. Por exemplo, uma pessoa que no dia 30 deixa de ser militante por ter, por exemplo, 31 anos, faz sentido que vote e influencie o futuro da JSD só porque pertenceu a um cargo? Os presidentes de Distritais ainda compreendo. Agora membros de CPN ou CPD (agora CPR) não me parece compreensível. Pior, imagine-se que a Lista A ganha com 20 votos de vantagem sobre a Lista B, só que teve 21 inerências a votar em si. O resultado é evidente: Umas semanas depois, apresentação de moção de censura, onde as inerências não votam e cai a CPR, para dar um exemplo. As inerências são mesmo um mecanismo de instabilidade eleitoral. Não faz sentido.
Também tinha sugerido que me parecia uma boa ideia, que não se pudesse candidatar a qualquer órgão o militante que fizesse os 30 anos nos seis meses seguintes. É possível estender o mandato para lá dos 30 anos, se o mandato teve início em idade de Jota. Parece-me bem. Mas tem que se evitar a situação, de militantes que querendo manter-se agarrados ao poder (por exemplo, porque se avizinha um ciclo autárquico ou legislativo) possam marcar eleições se for necessário para uma semana antes de fazerem anos para se manterem no poder, quase até aos 32 anos. Para futuro isto deveria ser imposto.
Terminaria com a obrigatoriedade de formação a que um presidente fica adstrito. É muito discutível. Em primeiro lugar, não sei se faz muito sentido que um presidente, legitimado pelo voto dos seus militantes, com um programa eleitoral sufragado (acho bem a obrigatoriedade de se ter que apresentar programa eleitoral juntamente com as subscrições) tenha que ir ser formado. Segundo que métodos? E, claro, por quem? Porque é que alguém de uma CPN terá mais capacidades para formar, do que um presidente de Secção? Um Presidente de Secção pode achar (e muitas vezes com razão) que tem mais formação do que alguém que lhe vai dar essa formação. Um Presidente com uma vida académica ou profissional de grande relevo, que já tenha vários anos de estrutura, vai ter que se submeter a formação dada por alguém que até lhe pode não conferir crédito algum? E onde vão ser as formações? Em todos os Distritos, ou vai-se obrigar uma pessoa de Portalegre a vir ter formação a Lisboa? Mesmo que seja um evento como a Universidade de Verão em que a formação é dada pelos melhores quadros do PSD (e são considerados os melhores unanimemente) é duvidosa esta obrigatoriedade. Por mim, instituía a obrigação de apresentação de manifesto eleitoral, com a obrigação de envio de relatório de contas e de actividades, aprovado em Plenário de Secção, para a CPR ou a CPN e obrigatoriedade de apresentação desses relatórios em Conselho Distrital (Regional) para que fosse pública a actividade dessa secção. Dever-se-ia repensar a representatividade das secções em número de conselheiros ou delegados ao Congresso, fazendo-se uma mistura entre o número de militantes e outros indicativos de actividade, como seja a participação eleitoral, por exemplo. A par disto, propunha redução do número de Conselheiros Distritais (Regionais). Se existem 55 Conselheiros Nacionais, fará sentido que a nível Distrital existam mais de 200? Para mim, dever-se ia reduzir o número de Conselheiros para 1 por secção (garantindo a participação de todas) um rateio que permitisse que as secções acrescessem 1 ou 2 conselheiros, conforme o número de militantes e novamente um novo rateio de 1 ou 2 conselheiros, pela percentagem de participação eleitoral (todas as eleições deveriam ser alvo de forte fiscalização pelo Conselho de Jurisdição, Comissões Eleitorais, etc.). Assim uma secção poderia ter no máximo 5 conselheiros e no mínimo 3. Pergunto: Faz sentido que uma secção porque tem 650 militantes tenha imaginem 18 Conselheiros e uma secção de 150 tenha 3 ou 4, existindo assim um peso completamente diferente na estratégia distrital e nacional, quando, por hipótese, a secção de 150 tem taxas de participação eleitoral de 50% e a de 650 taxas de participação eleitoral de 5%, realizando 10 vezes menos actividades, apresentando muito menos moções, enfim, trabalhando muito menos? Não faz sentido. Com isto dignificava-se a figura do Conselheiro Distrital e ao mesmo tempo diminuía-se a captura de militantes, só porque isso dá mais peso eleitoral, apostando-se mais em militantes participativos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Resultados do XXI Congresso Nacional da JSD

Conselho de Jurisdição Nacional

Lista A - 385 votos
Lista B - 217 votos

Eleitos:

Lista A - 5 membros
Lista B - 2 membros

Conselho Nacional

Lista A - 380 votos
Lista B - 220 votos

Eleitos:

Lista A - 35 conselheiros.
Lista B - 20 conselheiros.

Mesa:

Lista A - 373 votos
Lista B - 227 votos

Comissão Política Nacional:

Lista A - 380 Votos
Lista B - 220 Votos.

P.S(D) - Os resultados foram anotados presencialmente, pelo que peço desculpa por eventual erro de registo.

P.S(D) 2 - Deixarei para depois análise sobre o Congresso e os seus resultados.

Parabéns a todos os que foram eleitos no XXI Congresso Nacional da JSD, realizado nos dias 26,27 e 28 de Novembro, na fantástica cidade de Coimbra.

domingo, 28 de novembro de 2010

preliminar de um raciocínio

O meu tão adiado primeiro comentário chega atrasado e disperso. A verdade é que estou levemente cansada do debate fervoroso tão pouco prático e aguardo, com carinho, paciência e algum activismo, acções: não das de sensibilização, por favor.

Sobre os cortes de 23% na cultura e a entrevista fantástica ao Luís Miguel Cintra

Acuso também um certo cansaço da pretensão das artes em viver num universo à parte. Eles, os normais, Nós, os artistas. Enfim, explanando agora o raciocínio:

Se por um lado dizemos que há sempre pouco dinheiro para investimentos na área da cultura/arte, também o dizemos permanentemente, motivo pelo qual a noção de "crise" é diferente e demora muito tempo a ser percepcionada pela classe artística que, genericamente, tende a viver "à parte". (se me perguntarem o porquê de ser um meio tão hermético, direi que é por comodismo, ao som de uma gargalhada - nunca pensei chamar comodista a um meio artístico.)
Digamos: os 23% são o clímax desta crise permanente na cultura portuguesa. E a verdade é que o problema não é SÓ (embora seja, também) o pouco dinheiro atribuído às criações artísticas: é a forma como ele é mal distribuído pelos grupos, acabando por favor a museologia artística e não a criação, de facto; é também, e é a este ponto que quero chegar, de não haver consciência social na criação. Perguntar-me-ão se a arte não deve ser livre. Não tenho resposta, naturalmente, daí que me fascine criar. O que é certo é que se se vive de dinheiros estatais porque se recusa o mecenato, parece-me que há a obrigação de deixar cair o ego e perceber que há, de facto, investimentos prioritário, que não pagar um jacuzzi para estar em cena 3 dias no grande auditório do CCB, numa sala recheada de convidados, família, críticos de teatro e amigos actores.
Retrógrada, a minha crítica? Não. Aprecio e sei que é dever do Estado apoiar a criação artística, embora não me pareça que isso se faça apenas dando verbas. Há "n" espaços devolutos: atribui-los a companhias não custaria dinheiro nenhum e estar-se-ia igualmente a favorecer e impulsionar a cultura.
A criatividade é, a meu ver, a grande matéria-prima do nosso século. Esta é, por isso, a hora de sermos criativos.

Se o corte de 23% é demais? É, sem dúvida. Mas prefiro ver "o corte" como uma proposta. Mas prefiro pensar que aquando a reformulação, a distribuição será mais favorável à Arte.
A arte não é essencial à vida de nenhum de nós, mas é inevitável; está a tornar-se num espelho cada vez mais preciso (=verdadeiro, =necessário). Continuar a fazê-la, mesmo com estas condicionantes financeiras, não é, de todo, concordar com elas, por um motivo simples: se, assim, conseguirmos tornar a arte lucrativa, será sinal de que os 23% deverão ser repostos... e somar-lhes uns quantos.
O cerne do trabalho da criatividade será, então: provar que a actividade artística pode ser (tal como na Alemanha) rentável e especialmente útil, ao nível do questionamento social, num momento como este.

Termino com um sincero pedido de desculpas. Pelo caos mental e pelo atraso do comentário.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um Olhar sobre a Cimeira dos Jovens Atlanticistas 2010

Tive a oportunidade de estar presente na Cimeira dos Jovens Atlanticistas que decorreu de dia 18 a dia 20, à margem da Cimeira da NATO. A cimeira (a primeira) visava o debate acerca do presente e do futuro da NATO contando para tal com a participação de vários convidados, dirigentes e representantes de várias organizações que desempenham um papel activo no que diz respeito à Aliança Atlântica, bem como de jovens, alguns também representantes destas organizações, outros apenas interessados no tema.

Foi interessante ver que a NATO está aberta ao diálogo e ao debate acerca da sua posição no Mundo uma vez que aquela cimeira não se limitou a palestras acerca da magnífica utilidade da Aliança. Foi além desse cenário. Prova disso é o facto de no terceiro dia ter tido lugar uma vídeo-conferência com estudantes de duas Universidades do Afeganistão, com o Ministro do Ensino Superior daquele país e com um elemento presente na sede da NATO em Bruxelas, na qual um estudante chegou a afirmar que a segurança em terras afegãs era cada vez pior. Aliás, esta vídeo-conferência fomentou bastante o debate, com perguntas de parte a parte. algumas sem resposta contundente mas com a ideia a ficar presente. No entanto, a cimeira não ficou por aqui. A diplomacia com a Rússia foi também abordada. As conferências de prestigiados convidados como Ban Ki Moon, o General Rasmussen e o General Petraeus, e de outros convidados não tão conhecidos mas igualmente perspicazes como o Almirante Stavridis, Jamie Shea contribuíram para a exposição e para o debate.

De realçar também a segurança em torno da cimeira da NATO que se estendeu à cimeira dos Jovens atlanticistas uma vez que as cimeiras realizavam-se em locais muito próximos. Houve, aliás a oportunidade de visitarmos o local onde os chefes de Governo discutiram o Novo Conceito Estratégico, que foi aprovado.

Em suma, um evento interessante e que proporcionou um maior conhecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Prova da diferença

Há quem por aí diga num chavão mais ou menos corrente que os jovens não se interessam por nada, referindo-se este nada ao seu futuro colectivo. Há de facto um conjunto de pessoas que tentam passar essa ideia que está bem longe de ser provada. Nos dias que correm, juntando a facilidade das comunicações à abertura a jovens de novos campos de actuação, tem sido desmentida, dia após dia, esta ideia de há longos anos mais conhecida pela afirmação de que existe uma «geração rasca».

Porque a imprensa regional tem vindo a fazer o seu papel de impulsionar e divulgar as acções de muitos jovens do distrito e o seu mérito nas imensas conquistas que vão fazendo, hoje trago-vos uma ideia que está a percorrer uma rede social – o facebook – e uma página online de petições – peticaopublica.com –, o movimento anti-corrupção, cujo criador é o jovem leiriense Micael Sousa.

O Micael e o movimento que criou tem vindo a desenvolver um longo e interessante debate relativo à corrupção nessa rede social que é, como sabemos, em grande parte frequentada por jovens. Desse debate à construção de uma petição pública, tendente ao combate à corrupção através da consciencialização, informação, formação e educação, foi um passo. Neste momento a petição pública, que será entregue na Assembleia da República, é subscrita por 947 pessoas e uma delas é a eurodeputada socialista Ana Gomes.

Concordo em absoluto com o ponto de vista que é abordado no texto justificativo. A corrupção – das manifestações mais pequenas às grandes – leva a que o grau de desenvolvimento do país se encontre abaixo do potencial que ele realmente tem. Estas práticas, não só injustas, tornam a vida em comunidade menos fraterna e menos democrática.

A mudança neste aspecto, dada a sua transversalidade, passa pela consciência de todos nós, mas também através de medidas concretas como uma aposta na prevenção, na sensibilização e desenvolvimento de campanhas que alertem para este fenómeno e para os seus efeitos na vida do nosso país e do seu povo, começando esse trabalho na própria Casa da democracia – o Parlamento –, mas também, na educação, através de aulas de frequência obrigatória de cidadania e de disciplina obrigatória de ética e deontologia profissional em cursos superiores, a fim de abordar e explanar estas temáticas.

Resta-me deixar-vos o apelo para que indo a http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2010N3298, possam aí subscrever esta petição, sinal de que há quem se interesse por causas colectivas, a fim de tornar o nosso país num país melhor.

A notícia da capa do Diário de Leiria de ontem e que destaco nesta crónica é a aprovação do orçamento municipal em Leiria. Há que rever a lógica prevista na lei que regula a elaboração destes documentos, porque Castro tem razão na afirmação que fez sobre o irrealismo das receitas previstas meramente para cumprir o requisito de cobrir a despesa. Contudo, o facto que me salta mais à vista na notícia é a referência a troca de palavras entre o líder da bancada da vereação do PSD com os eleitos do PS, que o povo de Leiria há um ano atrás conferiu a responsabilidade de governar o concelho. Parece que o PSD ainda não fez a digestão da derrota, mas mais grave, a má digestão provocou a crispação. Tal como no país, Leiria, hoje vê a oposição sem rumo, que troca a postura construtiva pelo confronto. Leiria e Portugal precisam de uma oposição melhor, para bem de todos.

in Diário de Leiria de 25 de Novembro de 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Notas Várias

  • Aproveito este post, para fazer referência a vários assuntos com relação directa ou indirecta com a JSD. Gostaria de começar por endereçar votos de excelente mandato ao Guilherme e à sua equipa, após as eleições na Secção B. A Secção B, é absolutamente vital para o Distrito de Lisboa, atrever-me-ia a dizer, que é a secção com melhores condições para desenvolver um grande trabalho mas, paralelamente, com uma enorme responsabilidade. A sua área de secção, abrangendo a Cidade Universitária, permite que a secção esteja munida de quadros de excelência, que podem colocar em prática uma agenda de causas que seja representativa dos anseios dos jovens da respectiva área de secção. Eu diria, que o sucesso ou não sucesso de um mandato, passará muito pelo trabalho que se consiga desenvolver a nível do Ensino Superior, não obstante não se esgote aí o objecto político daquela secção. As formações e as tertúlias assumem também grande importância. O Guilherme é sem dúvida, um quadro técnico de grande valia, tem agora a hipótese de dinamizar a secção que tão bem conhece. Desejo-lhe as maiores felicidades, porque, definitivamente a JSD precisa de uma Secção B muito forte!

  • A campanha eleitoral para o XXI Congresso Nacional da JSD, entra na recta final, faltando poucos dias para que se saiba quem vai ser o próximo presidente da JSD. Não me vou pronunciar sobre o que está a acontecer no país, até porque me parece evidente. Poderia falar do Distrito que melhor conheço Lisboa, mas com quase todas as secções a já terem declarado o apoio, é possível perceber, com enorme clareza, qual será o candidato vencedor em Lisboa. Também não valerá a pena pronunciar-me sobre o meu apoio, porque também é público. Resta-me, portanto, desejar que quem for eleito desempenhe essas funções, com o sentido de responsabilidade que é exigido a um Presidente da JSD.

  • Neste Congresso Nacional vai-se também discutir a Revisão Estatutária da JSD. Já aqui vos falei, em anterior ocasião, da questão relativa à livre militância. Dou-vos mais duas notas: Uma, que se relaciona com as inerências. Fazem sentido as inerências de voto, a nível distrital, dos presidentes de secção, pela necessária articulação dos presidentes de secção com a Comissão Política Distrital. Tenho dúvidas, mas aceito, pelo mesmo argumento, que se aceitem as inerências com direito a voto dos presidentes distritais no Congresso Nacional. O que já não faz sentido é que tenham direito a voto os elementos da CPD ou CPN (respectivamente, no Conselho Distrital Eleitoral e no Congresso Nacional) cessantes no acto eleitoral em causa. Muitas dessas pessoas, já nem sequer podem ser candidatas, já ultrapassaram a idade máxima para se ser militante na JSD. Fará sentido irem tomar decisões sobre o futuro da estrutura a que deixam de pertencer no dia a seguir ao Congresso ou Conselho Distrital Eleitoral só porque durante dois anos foram, por exemplo, vogais de uma equipa? Para além disso, é um factor de instabilidade. Imagine-se, caso que não seria inédito, num Conselho Distrital Eleitoral, determinada lista ter mais 10 votos que a lista adversário. Sucede, que a lista vencedora era apoiada pela Comissão Política Anterior e que por isso teve, por hipótese, 11 votos vindos das inerências. É eleita. Passo seguinte: No próximo Conselho Distrital, a lista perdedora, ou melhor, aparentemente perdedora, apresenta uma moção de censura (aqui já não votam as inerências) e a Distrital cai. Faz algum sentido? Existem mais duas ou três propostas, que vos terei oportunidade de apresentar em momento futuro. Até pode ser depois do Congresso em jeito de comentário à Revisão Estatutária que se poderá operar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lisboa e o Fim da Guerra Fria


Muita tinta tem corrido na imprensa portuguesa graças ao aparato que a Cimeira da NATO trouxe a Lisboa. Contudo, caros colegas e caros leitores, devo confessar que muito me entristece a superficialidade e a externalidade com que os nossos media têm abordado os acontecimentos dos passados dias 19 e 20. Parece-me que o interesse pela blindagem dos carros, pelo ginásio no avião do Sr. Obama ou pela inconveniente tolerância de ponto tem prevalecido sobre a importância histórica que esta Cimeira representa.
Lisboa tornou-se o palco de um novo ciclo de relações NATO-Rússia e prova disso é a aprovação do Novo Conceito Estratégico, onde a Rússia deixa de se constituir como o inimigo tradicional da Aliança Atlântica. A envolvência de Moscovo em questões tão importantes como a criação do escudo antimíssil é mais um sinal de reset nas relações entre os antigos rivais da Guerra Fria e vai de encontro aos esforços desenvolvidos pelo Presidente Barack Obama, responsável pela negociação do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START) com a Rússia.
Mesmo após a queda do Muro de Berlim e posterior desagregação das repúblicas soviéticas, a frieza e desconfiança nunca abandonaram as relações Washington-Moscovo. Em Lisboa, as duas potências parecem ter percebido que a ausência de diálogo e compromisso entre ambos poria em causa a eficácia do combate às ameaças da Nova Ordem Mundial, nomeadamente a luta contra o terrorismo pan-islâmico e a proliferação das armas de destruição maciça. O 11 de Setembro e a insegurança globalizada assinalaram uma oportunidade para a reinvenção da NATO e permitem agora que a organização se adapte aos novos desafios e circunstâncias do século XXI.
A escolha da ocidental praia lusitana como berço do Novo Conceito Estratégico é mais do que deliberada: em 1952, o Conselho do Atlântico Norte reuniu-se pela primeira vez em Lisboa, onde a coligação fundou a sua estrutura militar permanente e adquiriu credibilidade para poder impor a sua vitória pacífica na Guerra Fria, e, com o Tratado de Lisboa, a UE preparou-se para assumir novas responsabilidades na segurança internacional. Daí que o canto mais ocidental europeu assinale o impulso de uma pareceria estratégica EU-NATO cada vez mais próxima e empenhada.
Para contrariar o motto que tem vindo a cobrir os muros e as bocas da cidade de Lisboa, não há maior contradição do que esta junção de palavras “Paz Sim, NATO Não”; é a própria história que nos presenteia com 60 anos de paz e segurança que a NATO garantiu na Europa e que desembocou no processo de integração europeia.
O terrorismo, o cibercrime, as tiranias e a proliferação de armas de destruição maciça persistem como ameaças que estão em cima da mesa para os próximos anos e sentenciam os dilemas existenciais da Aliança Atlântica. Em Lisboa, a NATO revitalizou-se e vincou o seu novo papel na cena internacional e, sem abdicar da Rússia como uma das principais parecerias estratégicas, evidenciou que o mundo, definitivamente, deixou de ser bipolar.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

FMI sem extremismos

Na tentativa de adjectivar o papel do FMI como possível interveniente na Economia Portuguesa a situação tem sido colocada num continuum que tem no seu extremo esquerdo “Monstruoso” e no seu extremo direito “Salvador”. Muitos dos que se têm ouvido arriscar situar um ponto têm sentido uma inexaurível atracção pelo pólos. Na minha perspectiva existe aqui uma dramatização evidente, quer positiva quer negativa. Confrontado com este continuum posiciono a minha análise estritamente no centro, mas incrivelmente para alguns isto não quer dizer que não tenha uma posição clara sobre a necessidade ou não da entrada do FMI em Portugal. São duas coisas distintas: entrada, sim ou não, avaliação da entrada, entre a catástrofe e a salvação.

Comecemos por fazer um esforço de compreensão das várias posições. Aqueles que exibem uma visão mais catastrófica, consubstanciam-se numa base menos Económica, menos racional e complexa e por isso mais poética e fácil de vender. Os argumentos giram em torno da perda da soberania nacional para as instituições internacionais e o descrédito dos decisores confirmada a incapacidade de resolvermos os nossos problemas por nós. Alguns, apesar de tudo, utilizam uma argumentação mais objectiva, contestam a dureza do choque económico de um conjunto de políticas impostas e decididas longe da economia real sem as devidas preocupações sociais e sem um pensamento estrutural, servindo-se aqui de exemplos históricos.

No outro extremo muitos têm reivindicado um papel de salvação nacional para o FMI. A análise recorre mais vezes a argumentos mais claros. Em primeiro lugar, teremos que renegociar cerca de 20% da nossa dívida no primeiro semestre do próximo ano, e fazê-lo a 6% poderá ser, e agora sim, catastrófico. Uma renegociação 2 p.p. ou 2,5 p.p. abaixo poderá colocar-nos, no que à dívida pública diz respeito, numa situação bem mais favorável mesmo quando comparada com o que temos vindo a pagar nos últimos anos. A isto acrescem o efeito de credibilização sobre os mercados que transportam as políticas implementadas pelo FMI, e tal como em 1982/1983, a possibilidade de gerarem-se em, termos políticos, os incentivos certos para que as politicas pouco eleitoralistas tenham lugar sem um impacto demasiado negativo na reputação do governo; o efeito “inimigo público”.

Finalmente, há quem arrisque elencar benefícios do conhecimento da situação da Economia Portuguesa que decorrem do facto de figuras de topo no FMI como Olivier Blachard e António Borges, estarem de facto muito próximas da nossa realidade.

Ora se é verdade que visão fatalista é essencialmente populista, sendo por isso mais difícil de convencer-nos de forma objectiva, acaba por recorrer a um ponto chave: o FMI pode criar incentivos para o desenvolvimento das reformas estruturais que Olivier Blanchard já identificou, mesmo que seja por imposição, mas não irá garantir a sua implementação por completo, não será o Salvador. As intervenções de 1982/1983 foram um sucesso, Portugal corrigiu uma situação orçamental gravíssima, mas 15 anos depois recomeçaram-se a cometer erros já vistos. Não houve aprendizagem mas indisciplina política.

Está aqui identificada primeira parte da questão, o porquê deste posicionamento no centro.

Precisamos do FMI? Acho que não sendo condição absolutamente necessária para sairmos desta situação, poderá contribuir muito favoravelmente criando as condições para que possamos resolver os nossos problemas a longo prazo. E acrescento, se tomarmos nós a iniciativa de solicitar esse auxílio, do ponto de vista negocial, as condições de estabilização orçamental impostas poderão ser mais suaves.

As necessidades de reformas estruturais estão identificadas por muitos. Mas sem a vontade e compromisso políticos, não irão avançar de forma coerente. Essa obrigação permanecerá do nosso lado.

(Mais à frente retomarei este tema das reformas estruturais)

Cumprimentos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Apresentações

Com o ingresso da Ana Correia e do Luís Diogo, o primeiro lote de colaboradores do Zona de Decisão. O Luís já fez a sua apresentação, cumprirá dar algumas notas sobre a Ana Correia: A Ana é estudante na Faculdade de Direito de Lisboa, mas encontra-se, neste momento, no Rio de Janeiro, ao abrigo do Programa Sócrates. É militante da Secção B (Em Lisboa) da JSD, e já teve uma participação no associativismo, já que fez parte do gabinete de apoio ao primeiro ano na AAFDL. É do Sport Lisboa e Benfica e adora cinema.  
Ainda não tinha aqui dado nota dos dados biográficos da Raquel Baptista Leite: A Raquel é estudante de Medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. A Nível político, é vice-presidente da JSD/Cascais e porta-voz do grupo de membros da Assembleia de Freguesia da Parede, eleita nas listas da coligação Viva Cascais (PSD/PP). Faz parte do movimento “Equipas de jovens de Nossa Senhora”. Gosta de Ballet.
Feitas as apresentações, cumprirá dizer que este grupo poderá ainda ter mais uma aquisição no futuro próximo. Depois, posteriores reajustes só daqui por alguns meses. Ainda, devo lembrar que podem ser convidados pessoas que por uma ou outra razão se destaquem, a escrever um texto neste espaço, abrindo-se, nessa altura, os espaços de colaboração pontual.

Apresentação

Meus caros,

Em 1º lugar, venho agradecer o convite que me foi endereçado pelo Pedro Correia e materializado pelo Tiago Mendonça. Espero poder contribuir um pouco com a minha experiência para o interessante debate que preconizo que venha a existir neste blogue.

Para já deixo uma pequena apresentação.

Sou licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa.A minha experiência profissional foi principalmente no sector da banca e foi desenvolvida internacionalmente no Royal Bank of Scotland em Amesterdão.Trabalho actualmente na Vodafone Portugal no Dept. de Estratégia e sou militante da JS Baixo Alentejo, embora não praticante. Sou liberal a nível económico e social, coisa rara nos dias que correm. Que mais posso dizer sobre mim? Bem, já vivi no Médio Oriente e, em tempos, fui dos melhores jogadores de berlinde de que há memória na bonita cidade de Beja.

Um bem-haja a todos.

Luís Diogo

domingo, 14 de novembro de 2010

Escrevi este texto num comentário no Blogue "Psicolaranja", em defesa da Livre Militância.

Defendo a livre militância há muitos anos. Levantei o problema em Conselho Distrital há 3 ou 4 anos, levei a questão ao último Congresso Nacional, e voltei a sugerir isso mesmo recentemente.
         Em condições normais, a livre militância, não seria provavelmente necessária. Conhecendo a JSD, parece-me imperativo. Isto, porque como sabemos, 70 ou 80% das secções não estão minimamente activas. Um militante, que viva na área de secção da Secção X e estude na área de Secção Y, pode ter a impossibilidade ser activo na JSD, porque essas duas secções, simplesmente não fazem qualquer tipo de trabalho político. Por outro lado, pode acontecer que eu conheça um conjunto de pessoas na minha Faculdade, que estão motivadas a entrar na JSD, mas que perfilham do projecto político que idealizo para minha secção, mas não concordam absolutamente nada com o projecto político (se existir) da secção correspondente ao estabelecimento de ensino que frequentam. Acabam por não participar na JSD. Ou ainda, um terceiro caso, que posso falar com exactidão: Hoje um aluno da Escola Vasco da Gama (Escola Básica – portanto, abrangendo-se militantes de 14 anos) está na área da secção Oriental. Contudo, se a escola fosse 200 metros ao lado, já poderia militar em Moscavide. Supondo que Moscavide era uma secção activa e a Oriental não, faria algum sentido obrigar-se esse militante a, simplesmente, não ser militante activo? Pior, no caso concreto, esse aluno está a 3 minutos de carro da sede de Moscavide e muito mais longe da sede da Oriental.
         Agora, tudo isto perde um pouco de importância, senão existir alargamento aos maiores. Ou seja, apenas e só os menores se podem inscrever numa qualquer secção à sua escolha: Isto comporta o problema, de esse militante, obrigatoriamente, ter que deixar a sua secção quando completa 19 anos, o que leva a que não crie um verdadeiro vínculo com essa secção. Para além disto, o leque de casos em que isto se poderia aplicar é muito menor, já que as Universidades ficam fora do âmbito de aplicação, sendo que era precisamente aqui que esta medida fazia mais sentido: O militante do Alentejo que vem estudar para a FDL, mas que conhece o presidente de uma secção de Sintra muitíssimo activa, com um projecto em que se revê, não tendo qualquer secção em Lisboa em que queira participar ou sequer que o convide a participar.
         Por outro lado a livre militância tem que ter sempre limites: Eu na altura propus, a obrigatoriedade de permanência nessa secção durante um período mínimo de 3 anos (evitando as brigadas eleitorais), a impossibilidade de trocar mais que duas vezes de secção (com o mesmo objectivo) e uma secção não poder ter mais de 1/3 do número total de militantes não pertencentes (originariamente – isto é que, que não residam, trabalhem ou estudem na zona da secção em que se inscrevem) à sua zona de secção, de forma a que não exista uma descaracterização das secções, evitando o caso de, por exemplo, uma qualquer secção de Sintra ter mais militantes de Paços de Ferreira do que de Sintra.
         Existe, no entanto, uma vantagem residual, que tem que ver com a intervenção da JSD em associações de estudantes. Uma secção muito activa, poderá alargar a sua base de apoio e de intervenção no Ensino Básico e Secundário, interagindo com algumas escolas fronteiriças, e podendo ai alargar a sua base de militantes com alguns alunos dessa escola fronteiriça que se queiram inscrever, nunca ultrapassando o tal limite de 1/3 do número total de militantes da sua secção. Assim, uma secção que se sinta mais à vontade para fazer militantes dessa escola fronteiriça, se quiser aumentar o seu número de militantes teria que, fazer trabalho na sua área, e aumentar mais que proporcionalmente o número de militantes no seu Concelho.
         Dizer ainda, que o número de militantes menores da JSD a nível nacional é baixo, no Distrito de Lisboa, por exemplo, é mesmo muito baixo. As secções devem ter inscritos 0,000001 dos militantes menores em comparação com o número de alunos das suas escolas secundárias. Em Lisboa (Concelho) esta medida não terá grande impacto, já que se podiam inscrever militantes livremente de todas as escolas secundárias em Lisboa. Com este target, não acho que nenhuma secção tenha necessidade de ir fazer militantes à Azambuja. Mesmo em Concelhos com menos Escolas Secundárias, como Loures por exemplo, o número de militantes menores em comparação com o número de alunos é muitíssimo diminuto, pelo que a medida acaba por não ter uma aplicabilidade grande, permitindo, creio eu, um imput de qualidade nas secções. Com o alargamento desta realidade aos maiores aí sim, poderíamos ter uma grande inversão na “matemática” dos Distritos e do País, sempre, quanto a mim, precavida pela regra do 1/3 – 2/3. Mas, talvez mais justiça.
         Compare-se a vasta rede de Universidades à disposição da secção B, por exemplo, e das secções de Loures, que não têm qualquer Faculdade onde possam “recrutar” novos quadros. Essa realidade, provoca uma desigualdade de oportunidades, que poderia ser combatida com essa livre militância, podendo os alunos dessas faculdades inscreverem-se onde quiserem.

Breve comentário às Eleições da JSD/Lisboa

A Comissão Política da JSD/Lisboa foi hoje eleita com 121 votos a favor, 11 nulos e 51 votos brancos. Não me vou pronunciar, sobre a solidez deste resultado, porque a partir de hoje, como disse há uns dias atrás, cumpre colaborar com a distrital agora eleita. Todos os militantes do Distrito de Lisboa, devem dar o seu melhor para ajudar a Joana e a sua equipa a vencerem os desafios que vão ter pela frente. Só dessa forma, com a consciência tranquila, se poderá apontar, no futuro, eventuais falhas, e propor caminhos alternativos.
Quanto à constituição da equipa, que apenas na Sexta-Feira fiquei a conhecer na íntegra, não vou perder tempo a salientar o que eu faria diferente, ou as escolhas que não entendo ou não concordo. Não é esse o momento. Prefiro salientar, a relação de respeito e cordialidade que tenho com a Patrícia Leitão, de amizade com Diogo Agostinho e as boas referências que tenho do André O’Neill, para a eles, à Joana e a toda a equipa desejar um excelente mandato.
Este desejo é, obviamente, igualmente extensível à Mesa do Conselho Distrital, eleita com 155 votos a favor, 6 nulos e 28 brancos, que, presidida pelo Ricardo Júlio Pinho, oferece as garantias de imparcialidade e de boa condução dos trabalhos, realidades absolutamente essenciais, para o mandato que se segue.

Boa sorte!

sábado, 13 de novembro de 2010

Uma nova abordagem ao Ambiente

As questões ambientais estão sem dúvida na berra. Hoje em dia existem telemóveis carregados a energia solar, carros "limpos", empresas de redução da pegada carbónica e índices de sustentabilidade na bolsa.

As políticas ambientais definiram uma espécie muito própria de fazer política. Têm os seus próprios princípios, as suas limitações técnicas e financeiras, a sua questão de interesse público entre muitas outras particularidades. Mas infelizmente as questões ambientais sempre foram e ainda são vistas como programas de radicais, ou de mentes ultra-liberais, cuja principal limitação é a de olhar somente para a Natureza e não para as questões humanas no seu todo. Aliás, ao pensarmos num "Ambientalista", a larga maioria de nós pensa num hippie mal vestido e de barba longa acorrentado a uma árvores com um sinal a dizer "Salvem as baleias!" ou algo assim, e não num Carlos Pimenta ou num Macário Correia.

Sem dúvida, o principal problema das questões ambientais são os seus preconceitos. Ora quem está de fora acha que é algo necessário, em que se deve gastar um pouco de dinheiro para termos florestas bonitas, ora quem está por dentro cerra-se muitas vezes numa cápsula de isolação, em que apenas conta o Ambiente. Para a maioria dos nossos legisladores, conservar a Natureza significa expulsar as pessoas de lá. Para outros, a água é necessariamente um bem público e não um bem comum, levando a uma situação totalmente insustentável. Outros afirmam com toda a certeza que temos uma excelente politica energética, quando nem sabem distinguir electricidade de energia.

Felizmente pouco a pouco existem movimentos que tentam contrariar isto, e tratam o Ambiente exactamente como deve ser tratado: algo do qual nós fazemos parte e que devemos tratar bem para que "sejamos igualmente bem tratados". Uma posição responsável e que saiba que ser "ecológico" compensa!

Quanto é que se poupava ao apostar na eficiência hídrica? Ou reabilitação urbana com medidas energéticas correctivas? Ou em tratamento efectivo de resíduos? Ou em ecologia industrial? Quanto é que se poupava ao reciclar todo o papel da administração pública? Ou em ter edifícios energéticamente eficientes e independentes?

Muitas empresas já começaram a aplicar medidas ambientais tendo em vista a redução de despesa. Basta ler o Diário Económico para conhecer alguns exemplos. Infelizmente os nossos políticos não....

Quando fundei a Ecozoic pensei exactamente neste tipo de mentalidade. Quando entrei para a JSD a mesma coisa, e o mesmo se passou quando aceitei o convite de ser contribuidor para este blogue. Como tal, aquilo que posso humildemente prometer é que os meus posts serão nesta linha de pensamento.

De pensar Ambiente com Humanidade, de ver Energia como um todo, de associar Economia a Ecologia. Sou contra quaisquer tipos de radicalismos ou mentes fechadas. O que quero aqui promover e deixar são novas soluções e propostas. A qualidade destas caberá ao leitor decidir.

Espero não desiludir!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ensaio da tarde...


A coisa até correu bem. O guião não tinha erros ortográficos. Morreram algumas pessoas, a peça era sobre liberais, monárquicos, conservadores e liberais. Um mix de semelhanças e coerências.

Da hipocrisia dos simultâneos defensores e coveiros do Estado Social

A não perder, um excelente ensaio de Mário Pinto, Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, no mais recente número da Nova Cidadania, intitulado "Estado Arbitrário ou Estado Subsidiário", de que aqui dou nota numa breve passagem:

"(...) é surpreendente o sentido das recentes reformas governamentais do «Estado Social», no nosso País, que praticamente se resumem em reduzir os benefícios aos cidadãos. Por exemplo: na Segurança Social, com redução de pensões e subsídios; no Serviço Nacional de Saúde, com reduções nas comparticipações nos medicamentos; não esquecendo o que foi a redução dos benefícios na educação escolar, com a reforma de Bolonha, que retirou substancialmente do regime favorável das propinas das licenciaturas quase metade dos anos das antigas licenciaturas, ao passarem para os mestrados. Todos estes cortes, e outros, incidindo naquilo que é o essencial do «Estado Social», ou seja, nos benefícios sociais, foram executados alegadamente em nome da viabilização financeira do Estado Social - portanto, em sua defesa. Porém, nem uma só medida merece destaque como redução do estatismo burocrático e gastador descontrolado, como desmonopolização racionalizadora das grandes máquinas estatais do «Estado Social».
Pior ainda. Se (mesmo sem pôr em causa a garantia dos benefícios nem a sua dimensão) alguma medida é proposta em favor da liberdade de escolha dos utentes ou da igualdade na oferta dos concorrentes privados - e portanto no sentido da desmonopolização e de uma concorrência mais racional e leal - logo os defensores dos monopólios públicos gritam que está em causa o «Estado Social». A ponto de acusarem (e até insultarem com juízo de intenções) as iniciativa reformistas, por pretenderem o «recuo do Estado Social». Quer dizer: reduzir as prestações não é fazer recuar o «Estado Social», mas reduzir o monopólio estatal isso é fazer recuar o «Estado Social». Fica à vista em que consiste o avanço do «Estado Social»: não é no avanço das prestações; é no avanço da estatização."

Declaração sobre as Eleições na JSD/Lisboa

No próximo Sábado, entre as 15h30 e as 18h30, realizam-se as eleições para a Mesa e para a Comissão Política Distrital de Lisboa da JSD. Apresentam-se a votos, como candidato a presidente da mesa, o meu amigo Ricardo Júlio Pinho, actual presidente da JSD/Oeiras e Vereador na Câmara Municipal de Oeiras e, como candidata, à presidência da comissão política distrital de Lisboa, a companheira Joana Barata Lopes.
         A Secção de Moscavide, à qual tenho a honra de presidir, não integrará nenhuma das duas listas que vão a votos, no próximo sábado, o que não significa que não exista uma predisposição a colaborar com os órgãos que agora vão ser eleitos. Seremos iguais a nós próprios: Colaborar sempre, elogiar sempre que for merecido, criticar sempre que discordarmos das opções tomadas, mantendo, inevitavelmente, uma cooperação institucional excelente, em nome do interesse dos jovens do Distrito de Lisboa.
         Nos últimos dois anos, foi isso que fiz. Crítica quando considerei que era ajustado faze-lo, elogio sempre que isso se adequou. Acho que a Comissão Política Distrital, liderada pelo Paulo Pereira, realizou algumas iniciativas que considero terem sido benéficas, como é o caso da Actividade direccionada para a temática cultural com a comissão política ainda em exercício fechou o seu mandato, bem como, os Conselhos Distritais Temáticos, que foram realizados. Errou, claramente, na incapacidade para dinamizar a Coordenadora do Ensino Superior e a Coordenadora do Ensino Básico e Secundário, que, simplesmente, não existiram. Em Conselho Distrital, critiquei este último aspecto, elogiei as iniciativas positivas que tive oportunidade de referir.
         Vivemos hoje um momento muito delicado para as Juventudes Partidárias em Geral, para a JSD em particular. Um momento de afastamento dos jovens, por culpa dos agentes políticos. Pela falta de credibilidade, que aqueles que, consecutivamente, chegam à Zona de Decisão, evidenciam no desempenho dos cargos para os quais foram eleitos. Mas também, por não se ter a coragem de penalizar quem prejudica a estrutura e beneficiar, verdadeiramente, quem dá o seu melhor no serviço da juventude, no caso, do Distrito de Lisboa.
         A Joana Barata Lopes e a sua equipa (que se deve conhecer nas próximas horas), têm pois um enorme desafio e uma grande responsabilidade pela frente. Por outro lado, têm hoje condições absolutamente excepcionais, para o desenvolvimento desse trabalho, podendo a Joana escolher a equipa, obedecendo a critérios somente qualitativos, já que não teve lista adversária. São condições impares, que parecem ser garante de um mandato bem sucedido, mas ao mesmo tempo, aumentam o nível de responsabilidade.
         Seria injusto, não dar uma palavra ao Grupo Ganhar uma Geração, que julgo ter desempenhado um papel importante no contexto distrital, pelo menos, no último ano. A apresentação de um programa para o Distrito, considerado pela globalidade das pessoas, como um programa com qualidade e abrangente das várias áreas de sensibilidade dos jovens do Distrito de Lisboa, em Setembro de 2009, e a realização de diversas iniciativas, como é o caso do Debate sobre a Energia Nuclear realizado em Oeiras, faziam antever que o Grupo Ganhar uma Geração teria todas as condições para edificar uma candidatura sólida e, potencialmente, vitoriosa.
         Essa dinâmica de trabalho (e de vitória) foi abruptamente interrompida, em Abril passado, momento em que, na minha opinião, o Grupo Ganhar uma Geração acabou. Outros considerem, que o grupo terá terminado em Setembro. Uma certeza existe: O Grupo Ganhar uma Geração não conseguiu apresentar uma candidatura a estas eleições. Não é o momento de atribuir culpas. O Processo Eleitoral, apenas tem a sua conclusão no próximo Sábado, e apenas no seu final, farei uma reflexão profunda sobre tudo o que se passou, e depois, a frio, procederei a uma análise objectiva dos acontecimentos dos últimos meses, não com a finalidade de recriminar ninguém, mas de evidenciar o caso de estudo que este Grupo foi. Nas boas coisas que teve, e nos exemplos absolutamente repugnantes que também viveu.
         Este é portanto o momento, de todos os militantes do Distrito de Lisboa, darem, pelo menos, o beneficio da dúvida à Comissão Política que no Sábado vai ser eleita. De se apresentarem disponíveis a uma cooperação institucional excelente, contribuindo, com os seus reparos, para que o mandato seja o melhor possível. Não devemos querer que as coisas corram mal aos outros, só para podermos criticar, e dizer que faríamos melhor. Devemos querer que tudo corra bem, para que “no final do dia”, possamos dizer isto foi bom, e, eventualmente, afirmarmos que podemos fazer ainda melhor.
         Termino este breve tópico, que entendi apenas dar depois da entrega de listas, agradecendo a todos aqueles que me acompanharam ao longo dos últimos anos, em que julgo ter contribuído positivamente para o Distrito de Lisboa. Seja na feitura do Programa Ganhar uma Geração, seja nas Moções que apresentei, seja nas intervenções em Conselho Distrital que fiz. Agradeço a todos os que mesmo nos momentos difíceis, em que era mais fácil abandonar as convicções e os valores em que acreditavam, se mantiverem fiéis a esses valores e aos compromissos assumidos. A todos aqueles, que por mais que uma vez me manifestaram apoio, solidariedade e me incentivaram a tomadas de decisões variadas. Muito lhes agradeço, e peço desculpa, como já o fiz em intervenção pública no referido Conselho Distrital, por não ter podido corresponder às expectativas que alguns auguravam.
         Agora é o momento de todos trabalharmos. Nas Secções, quem está encarregue da sua direcção, na Distrital os orgãos que serão eleitos no próximo Sábado, e na Nacional, os orgãos que vão ser eleitos no final do mês de Novembro. Todos a trabalhar, sem ressentimentos e sem mágoas. Também sem esquecer, e sem deixar de lembrar. Convergindo e Divergindo, respeitando apenas as nossas convicções e os nossos valores. Percebendo que os nossos adversários políticos estão fora da JSD e não dentro, e que mesmo com esses, como este Blogue evidencia, é possível trabalhar em conjunto, porque o que nos une é o mesmo: Fazer mais e melhor para e pela juventude do nosso país.
         Até breve!

In fine

Não é a dicotomia entre se estudar “o que é” e o que “deve ser” que é importante, é a aplicação prática. Já percebi que gosta de ciência política, de filosofia e teoria.

Tem razão meu caro, é importante alargar horizontes. Sugiro que se filie num partido, que avance para o combate político na rua, que se aperceba das dificuldades dos portugueses. Faça um porta a porta, visite regiões do interior e perceberá que a política é muito mais que um jogo de boas intenções, de belos textos e bons debates. Tente que as pessoas votem na sua causa e vai perceber que por muita ciência política, filosofia e teoria que tenha, elas valerão de bem pouco.

Avance para o terreno e vai perceber que afinal socialista, comunistas e bloquistas não são desligados da sociedade. Na verdade, estão bem ligados à sociedade, prova disso é a crescente representatividade de partidos como o PCP e BE – meus adversários políticos por natureza e temo a sua crescente representatividade. Representam mais de 17% da população portuguesa, discordo profundamente das suas posições, mas não subestimo adversários. Sabe, é que as pessoas exercem o direito de voto na plenitude da sua liberdade.

Vamos discutir algo importante como o actual estado do país – é a segunda vez que escrevo isto e não reentarei mais neste debate. Reafirmo, que apenas salientei a minha tolerância: Assumo a minha liberdade e tolero a dos outros, as suas convicções e as suas opiniões.

P.S. Um dia podemos juntar-nos numa esplanada a contar piadas, também sei umas quantas sobre monárquicos, liberais e conservadores. Mas não o vou fazer aqui, sairia fora das intenções da criação deste blogue.

Pedras...


Pedras no Caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…
Augusto Cury


Sobre este post, apesar de ser socialista, filiado desde os 18 anos, não fico nada ofendido, não me ofende quem quer, só me ofende quem eu entendo que merece ofender-me, pois concebo a prática do debate de ideias e das opiniões, seja na política ou fora dela, como algo que tem que ser feito com o respeito que os outros nos merecem.

Uma questão de Humanidade

Aminetu Haidar, activista dos Direitos Humanos, está em Portugal. Esta semana cumprirá uma agenda de visitas a várias instituições desde a Universidade de Coimbra à Assembleia Municipal de Lisboa. Encontrar-se-á também com militantes da luta pela auto-determinação do Sahara Ocidental, actualmente administrado por Marrocos. A passagem da activista acontece quase um ano depois da greve de fome contra o regime marroquino que a impedia de regressar à sua terra natal, vinda de Nova Iorque, onde recebeu o prémio de Direitos Humanos Robert F. Kennedy. Durante uns longos e penosos 32 dias, Aminetu Haidar colocando a sua vida em perigo em nome da auto-determinação do povo saharauí, permaneceu no Aeroporto de Lanzarote, num protesto que não só atraiu a atenção da comunidade internacional para a causa em que acredita como a lançou para uma vida mais díficil dado os danos físicos permanentes que 32 dias de fome lhe causaram.

A sua visita reveste especial importância quando, esta semana, o El Pais e o El Mundo relatam a invasão de um acampamento no Sahara Ocidental, por parte das forças de segurança de Marrocos. Num destes locais onde se contabilizavam aproximadamente 7 mil tendas e 20 mil pessoas, as forças de segurança marroquinas, segundo estes diários espanhóis, deram entrada durante a madrugada, utilizando gás lacrimogéneo e canhões de água, tendo em seguida incendiado centenas de tendas. Há, ainda, relatos que desde o passado Domingo as forças de segurança de Marrocos bloquearam a entrada nesse acampamento junto à capital do Sahara Ocidental, El Aiun, provocando confrontos entre manifestantes e a polícia. Fontes no local referiram a agências noticiosas que mulheres e crianças recusam-se a abandonar o acampamento por temerem pela vida dos seus maridos e pais.

É importante que a comunidade internacional esteja atenta à situação na região. Por um lado, Espanha, pelas razões históricas e de antiga potência colonizadora, e por outro, Portugal, membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ambos países claramente defensores dos Direitos Humanos, devem utilizar sua influência, quer no contexto da União Europeia, quer no contexto das Nações Unidas, a fim de repor a normalidade no Sahara Ocidental.

Portugal não deve fingir que nada se passa aqui tão perto. Nem deve por razões económicas abster-se de exprimir os princípios e os ideais que sempre fizeram parte da sua carta magna e que ao longo dos anos orientaram o país e a sua acção. Termino, elogiando a coragem e a determinação de Aminetu Haidar, quando no Mundo e nos dias em que vivemos poucos exemplos temos de sacrifício e de empenho pelas causas colectivas.

O início

Bom dia a todos,

É com enorme satisfação que vejo a materialização deste forúm, idealizado por mim e pelo Tiago já há alguns meses a esta parte e que pretende responder a uma necessidade que identifico de se colocar à discussão problemas do país real, apresentar soluções fortes e na abrangência encontrar uma decisão, um caminho. Vivemos num momento crucial da História de Portugal, um traçado de erros sucessivos desenhado nas últimas décadas colocou-nos numa situação limite: Se na próxima década não concretizarmos as reformas estruturais essenciais e transversais a todas as áreas da sociedade portuguesa, com elevada probabilidade estaremos a divergir da Europa, no crescimento e desenvolvimento económico, durante os próximos séculos.

A qualidade está presente, como refiro habitualmente, os Portugueses não só são capazes de igualar o melhor que lá fora se faz como de superar. A NOVA que vai representando a excelência do ensino da Economia em Portugal pela Europa, tem sucessivamente, no âmbito dos programas de intercâmbio, os seus alunos a superar os melhores resultados nas melhores faculdades. Temos figuras brilhantes que em todas as àreas da sociedade, sem excepção, estão em paridade com o topo da Qualidade Mundial.

Se acompanhamos o "state of the art" individualmente porque não o fazemos em conjunto? É esta a questão que devemos resolver, e só a poderemos alcançar com abrangência, descomprometimento de interesses secundários, e com decisões agora.
Vejo neste espaço a capacidade e creio que se se mantiver o foco necessário poderemos elaborar algumas das resoluções que precisamos.

Posto esta introdução peço as minhas desculpas a todos pelo atraso com que me início no blog, mas as jornadas de trabalho para lá das 22h têm se sucedido, absorvendo, por isso todo o meu tempo, e impedindo-me de acompanhar este arranque na discussão.

Agora sim, segue a minha curta apresentação:

Pedro Correia, 22 anos. Concluiu o Curso de Economia e Mestrado em Gestão com especialização em Estratégia ambos pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, o último com uma classificação final de 17, quer na parte lectiva quer na Tese de Mestrado. Actualmente desempenha as funções de analista de negócio na Direcção de Estratégia da Vodafone Portugal bem como é Director de Parcerias da WACT (ONGD Portuguesa). A nível político assume os cargos de Membro da Comissão Política da JSD Secção de Moscavide, é Conselheiro Distrital da JSD Lisboa e Membro da Assembleia de Freguesia da Portela. Viveu 6 meses em Estocolmo onde teve a oportunidade de estudar no Departamento de Economia da Stockholms Universitet. A forma mais fácil de o encontrar..Numa corrida depois do trabalho entre o Cais da Matinha e o Parque Tejo em Lisboa!

Ps: peço desde já a compreensão para algum erro ortográfico que possa ter passado agora e no futuro, não revi o que escrevi e em próximos momentos é igualmente possível que não o tenha o tempo para o fazer. Com as ideias, essas, garanto atenção total!

cumprimentos

Morreu o "Senhor do Adeus"

Morreu o "Senhor do Adeus". Uma mítica figura da cidade de Lisboa que presenteava quem passava pela praça do Saldanha, com um simpático Adeus. Era a sua maneira de dar e receber felicidade. Dar, ao fazer sorrir quem por "lá" passava. Receber, ao observar esses sorrisos.




João Manuel Serra - 1930 - 2010

Já dizia o meu falecido tio-avô

"Um grupo de socialistas enviado para um deserto acabava a importar areia".



Ainda o anti-qualquer coisa (3)

Caro Tibério, as suas deduções são algo que me deixa perplexo. Não estou a limitar seja o que for. Escreva o que quiser. Agora, não só parece algo incomodado com a situação do país, a qual atravessava todo o meu primeiro post, esquivando-se a discuti-la, como parece ter uma qualquer dificuldade em ver-se ao espelho. É que, quem começou por qualificar argumentos, foi o Tibério, com o "vocábulo infeliz". Quem começou por tentar limitar o que eu escrevo, foi o Tibério, com o medo dos "anti-qualquer coisa".

Quanto à abordagem académica, tente não confundir a FDL com esta. Talvez seja defeito de formação de parte a parte, mas enquanto o Direito estuda o que "deve ser", a Ciência Política prefere estudar "o que é". Se alargar um pouco os horizontes, talvez se surpreenda. A análise filosófica passa, em grande medida, pela qualificação e valoração de argumentos.

E porque esta discussão sem nexo já vai longa, proponho-lhe novamente, quer discutir a situação do país? Se quiser, aqui fica um post que escrevi ontem. Por outro lado, se quiser discutir o que é o conceito de liberdade ou o que é o socialismo, encontro-me também ao seu dispor.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Olá a todos!

Começo esta participação no Zona de Decisão cumprimentando todos os demais camaradas (palavra não associada neste contexto a qualquer filiação partidária) deste desafio.

Procurarei abordar aqui algumas temáticas e desenvolver alguns dos textos de opinião quinzenal no Diário de Leiria. O de amanhã, que antecipo aqui, é sobre a visita de Aminetu Haidar a Portugal.

Agradeço ao Tiago Mendonça pelo convite.

Um abraço a tod@s

Congresso Nacional (1)

O Congresso Nacional da JSD, realizar-se-á nos dias 26,27 e 28 de Novembro. O Congresso Nacional da JSD, para além de eleger os novos orgãos nacionais da Juventude Social Democrata, deverá servir também para rever os estatutos da JSD, pelo que adivinha um congresso bastante importante para a estrutura em que milito, mais a mais, tendo em conta o actual momento que o País atravessa, e o papel muito importante que a JSD pode e deve assumir, tendo em conta esse enquadramento.
         Em minha opinião, o caminho que as juventudes partidárias de um modo geral tem trilhado, apresenta-se com muito perigoso, já que, todos nós somos levados a reconhecer, que com um ou outro caso pontual a divergir, a realidade evidencia um afastamento progressivo dos jovens em relação à política. Assim, a JSD tem agora a oportunidade de colocar um ponto final nesse caminho, e, ao invés, de fazer um pequeno “upgrade” das práticas que tem seguido ao longo dos últimos anos, pode mesmo fazer uma “revolução” no seu modos operandi e dessa forma tornar-se uma estrutura mais próxima e mais importante para os jovens do nosso país.
         O Congresso Nacional da JSD, reúne-se, ordinariamente, de dois em dois anos, sendo o modelo eleitoral similar ao que vigorava no PSD, antes da implementação das directas: Cada secção tem um número de delegados, que são rateados consoante o número de militantes inscritos nessa mesma secção, num total de 600. Esses 600 Delegados, conjuntamente com as inerências existentes, votam nas listas candidatas aos vários orgãos nacionais (Conselho de Jurisdição Nacional, Conselho Nacional, Mesa e Comissão Política Nacional), sendo que, evidentemente, vence a lista que obtiver mais votos.
         Enfim, só pelo que acabei de afirmar, já tínhamos vários tópicos de análise, vejamos:

  • Será que o modelo de rateio dos delegados pelas secções, votando em Congresso Nacional os representantes de cada secção é um modelo melhor que o sistema de Directas?

  • Aceitando o modelo de rateio dos delegados pelas secções, será que o critério deveria ser unicamente o número de militantes de cada secção?

  • Será que faz sentido que as inerências tenham direito de foto?

  • E enfim, se entrarmos na matéria da revisão estatutária, matéria que me é muito grata, muitos mais assuntos poderíamos discutir, tais como: A livre militância, a limitação de mandatos, a incompatibilidade de exercer orgãos executivos simultaneamente, pelo menos, no plano distrital e nacional, a questão da expulsão definitiva dos militantes, enfim, uma vasta panóplia de questões práticas e que afectam directamente o funcionamento da JSD. Mas também questões de matéria mais teórica/programática, como sejam os princípios fundamentais e as tarefas primordiais da nossa estrutura.

  • Por último, evidentemente, tem interesse uma análise das duas candidaturas em disputa eleitoral e, o inerente balanço do mandato da última comissão política nacional.

Não sendo um compromisso, assumo o objectivo de convosco partilhar a minha opinião, mais ou menos desenvolvida, sobre as várias temáticas, pelo que segue o meu plano de textos sobre esta temática:

- Congresso Nacional (1) – Introdução
- Congresso Nacional (2) – O Modelo escolhido para a eleição dos orgãos nacionais
- Congresso Nacional (3) – Revisão Estatutária
- Congresso Nacional (4) – Balanço do mandato da actual CPN
- Congresso Nacional (5) – Das Candidaturas em especial.

Tentarei, em tempo útil, debruçar-me, sobre todos estes aspectos. Contudo, devo lembrar, que esta partilha só terá algum efeito útil, se for isso mesmo, uma partilha. É absolutamente importante que participem através das caixas de comentário, de forma a engrandecer esta troca de opiniões, sobre temas tão importantes para a JSD. Relembro ainda, que a maioria destes temas são absolutamente transversais às restantes juventudes partidárias, pelo que desafio, igualmente, os meus companheiros de escrita, não pertencentes à JSD, a darem a sua opinião sobre a temática.

P.S(D) - Daqui por meia hora tem início o Debate entre os dois candidatos, Duarte Marques e Carlos Reis, na Faculdade de Direito de Lisboa.

Qui suo jure utitur neminem laedit

Eu anunciei que isto ia tornar-se confuso. Pois bem meu caro, eu debrucei-me sobre um dos temas que Vossa Excelência colocou sobre a mesa e pela ordem que os colocou, agora pretende que eu redija sobre o que deseja. Não sou eu que estou a discutir uma não-questão, referi simplesmente a minha tolerância: Assumo a minha liberdade e tolero a dos outros, as suas convicções e as suas opiniões. Caro colega, radicalizou-se logo de inicio e não foi apenas moral e intelectualmente.

Perdoe-me, mas a sua abordagem tem bem pouco de pendor eminentemente académico, repare que está sempre a qualificar os fundamentos dos outros. Deixe isto para os leitores. Não é vulgar dos meios académicos a utilização de expressões como “habituais técnicas de distorção de argumentos”, “arranje substância para os seus argumentos”, “a sua presunção ignorante” e a sugerir insinuações. É bem mais comum no meio político, bastante usual até entre os políticos mais pacóvios e comum nos debates às associações de estudantes do secundário.

São daquelas esquivas técnicas de debate, em que quem toma parte da querela, quer ser simultaneamente o moderador e o comentador. A única coisa que tem de eminentemente académico são as suas citações de sábios autores, só ao alcance dos mais cultos ou dos que indagam pelo Google.

Não está a meu cargo tolher a liberdade sobre o que os outros escrevem, disserte sobre o que entender, não tente limitar sobre o que escrevo. Saberá o leitor depois desta troca de opiniões, afinal, quem mais honra a liberdade.

Ainda o anti-qualquer coisa (2)

O caro Tibério ainda não percebeu que está a discutir uma não-questão. Lancei vários temas sim, sobre o estado do país. Os quais o caro Tibério, sendo socialista, não se prestou a discutir. Percebemos porquê, claro.

Sinceramente, não tenho muita paciência para as habituais técnicas de distorção de argumentos, tão caras aos socialistas, e para os horrores de virgens ofendidas. A minha abordagem analítica e discursiva tem sempre um pendor eminentemente académico e, como tal, não contem comigo para ser politicamente correcto.

Contudo, como estou aqui de espírito aberto, e como nunca viro cara a qualquer confronto, pelo contrário, eu até lhe faço o obséquio de continuarmos a discutir isso. Peço-lhe é que não se fique apenas pela classificação de "infeliz". Arranje substância para os seus argumentos.

Ficam ainda dois reparos. Um, à sua afirmação de que Por ser um blogue que reúne vários quadrantes ideológicos, apreciei a forma inusitada como começou por «lançar alguns temas para a “mesa”». Aquilo que está subjacente às suas afirmações, e que já percebi logo no início, não é a tolerância mas o relativismo moral e intelectual, muito característico da Modernidade. Não conte comigo para isso. Como escreveu Gray em Gray's Anatomy, a respeito de Hayek, "a modern conservative must be a moral and intellectual radical".

Por último, o segundo reparo é à sua presunção ignorante: "Pelo menos não considerou o socialismo uma ideologia totalitária e escravizante do indivíduo. Um pequeno progresso." Juro que tive que me conter para não soltar uma gargalhada. Quer mesmo discutir isto? É mais que óbvio que o socialismo é uma ideologia totalitária e escravizante do indivíduo. Quando quiser discutir isto a sério, avise.

Bene tibii

Habitualmente fico-me pela tréplica, este post será uma espécie de articulado superveniente. A subtileza não será umas das minhas características, se quero dizer uma coisa digo-a, porque prezo a minha liberdade e a inerente responsabilidade. Aliás, pura e simplesmente reutilizei o seu exemplo de bem intencionados que abarrotam o Averno. Seria uma insinuação da sua parte?

Por ser um blogue que reúne vários quadrantes ideológicos, apreciei a forma inusitada como começou por «lançar alguns temas para a “mesa”», para agora os retirar. Sintomático nalguma direita. Pelo menos não considerou o socialismo uma ideologia totalitária e escravizante do indivíduo. Um pequeno progresso.

Vamos discutir algo importante como o actual estado do país, mas daqui a pouco não volte a retirar o tema da mesa, porque vai tornar-se confuso.

Deixo-lhe um alerta, os debates vão ser complicados. Andam por ai pessoas a escrever que socialistas, como eu, tendem a combater a liberdade com as suas ideias cheias de boas intenções mas desligadas da realidade.

Apresentação - Pedro Correia

Pedro Correia

Pedro Correia tem 22 anos e é licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa. Concluiu o Mestrado em Gestão com especialização em Estratégia, igualmente na Universidade Nova de Lisboa. Actualmente desempenha as funções de analista de negócio na Direcção de Estratégia da Vodafone Portugal. É director de parcerias da WACT (ONGD Portuguesa). A nível político, é vice-presidente da Comissão Política da JSD/Moscavide, Conselheiro Distrital de Lisboa da JSD e é membro da Assembleia de Freguesia da Portela.

É do Sport Lisboa e Benfica. Viveu 6 meses em Estocolmo, ao abrigo do programa Erasmus. A maneira mais fácil de o encontrar é numa corrida depois do trabalho entre o Cais da Matinha e o Parque Tejo em Lisboa.

Ainda a respeito do anti-qualquer coisa

O estimado Tibério Dinis, considera que usei um vocábulo infeliz. Contudo, esta nem me parece ser uma questão muito relevante - se eu fosse um qualquer fundamentalista, não estaria num blog com socialistas e comunistas ou bloquistas, não é verdade? - por um simples motivo: a educação e socialização dos seres humanos faz-se através de preconceitos - uns verdadeiros e correctos, outros nem por isso, sendo isto, claro, subjectivo e padecendo de um enquadramento societal. Independentemente da valoração normativa atribuída aos preconceitos, ou seja, tomando-os em consideração de um ponto de vista meramente abstracto e académico, muitos destes preconceitos, responsáveis pela formação da personalidade, contribuem para uma definição desta, em larga escala, por oposição a outros preconceitos. Tudo isto para dizer que, grande parte da nossa personalidade define-se precisamente por ser anti-qualquer coisa. Não vejo que daí advenha grande choque ou qualquer classificação de "infeliz". Um comunista é anti-liberdade (mesmo que não o saiba, e sobre isso poderemos falar), assim como um liberal é anti-comunista porque pró-liberdade.

Infeliz é insinuar que porque Hitler ou Mussolini eram anti-comunistas, logo eu estaria na mesma categoria - técnica da amálgama e da distorção dos argumentos, muito utilizada à esquerda. Só que não só se pode observar que não eram anti-comunistas primários, como eu me classifiquei, como tanto fascismo e nazismo são apenas a outra face da mesma moeda comunista. Tudo ideologias totalitárias e escravizantes do indivíduo. Como liberal, não considero qualquer uma delas admissível ou tolerável.

Entretanto, vamos discutir algo importante como o actual estado do país?

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Concessa venia

Hitler, Estaline, Mussolini, Mao, Pol Pot, Ceauşescu, todos eles anti-qualquer coisa, membros de uma brigada de algozes. Não serão os melhores exemplos a seu favor, afinal, nesta brigada contam-se, precisamente, anti-comunistas com resultados lúgubres.

De bem intencionados está o inferno cheio, é verdade. Todavia, não creio que existam maus intencionados que não estejam na ardente companhia de Lúcifer.

Não acredito que seja um mau intencionado, acredito sim que tenha usado vocábulo infeliz.

De bem intencionados está o Inferno cheio


Eu, que também pouco conheço de História, prefiro ter medo dos bem intencionados para os quais no fim "o Sol brilhará para todos nós". Ao abrigo do projecto Iluminista da Modernidade, muitas foram as tentativas de colocar Utopias em prática. Afinal, Hitler, Estaline, Mussolini, Mao, Pol Pot, Ceausescu, entre tantos outros, eram verdadeiramente bem intencionados, visando almejar um Mundo melhor, um mundo perfeito.

Os parágrafos que se seguem são retirados de um ensaio da minha autoria:

Já Fernando Pessoa assinalava que “o erro capital de todas as definições perfeitas é a perfeição. Uma cousa perfeita deixa sempre suspeitas de não existência”. A perfeição é utópica, e a utopia resulta de uma racionalização que, na História, encontra no Iluminismo o seu expoente máximo, chegando a acreditar-se que só é verdadeiramente livre aquele que se liberta pela razão.

Os sistemas racionais, assentando numa alegada cientificidade que deu corpo à Modernidade e rejeitou a Antiguidade e o papel central que a religião detinha na vida individual e em sociedade, começam desde logo com o sucedâneo de Rousseau e do que este idealizou, ou seja, Karl Marx, cujos ensinamentos vão servir de base aos revolucionários bolchevistas de 1917 e à experiência do comunismo, no qual Saramago se filia ideologicamente.

A acompanhar o comunismo, refiram-se o fascismo ou o nazismo, sistemas que apregoaram o racionalismo e que nem se aperceberam que eram tão ou mais religiosos que a religião católica ou outras. Isto porque, mais do que baseados na ciência, são baseados numa crença apocalíptica. Deve-se, no entanto, notar que Apocalipse significa revelação, ou seja, não é algo negativo, ao contrário do que o emprego habitual da palavra deixa adivinhar. Significa que, após uma revelação, após uma determinada alteração, como cantam os comunistas, “o sol brilhará para todos nós”.

No fundo, estamos aqui a recorrer aos ensinamentos de John Gray, considerando que estes sistemas racionais são baseados nesta escatologia milenarista, uma crença apocalíptica numa revelação ou alteração que fará com que o mundo seja um lugar melhor. O problema que a tentativa de colocar uma utopia em prática levanta é o de que os fins passam a justificar os meios, e todas as atrocidades cometidas em nome de uma ideologia passam a ser desculpadas pelas boas intenções iniciais. Isto é precisamente o mesmo que aconteceu com todas as guerras combatidas em nome de Deus. No essencial, ideologia e religião confundem-se, quando não são exactamente o mesmo, contrariando o que muitos dos mais radicais ideólogos pensam.

E como o próprio John Gray refere, em A Morte da Utopia (Guerra e Paz Editores, 2008, p.29):

"Norman Cohn identifica as seitas e os movimentos milenaristas como agarrados a uma ideia de salvação que tem cinco características distintivas: é colectiva, na medida em que é partilhada pela comunidade de fiéis; é terrestre, na medida em que se realiza na Terra e não no céu ou no Além; é iminente, na medida em que deve chegar depressa e subitamente; é total, na medida em que não só melhorará a vida na Terra mas também a transformará e aperfeiçoará; e miraculosa, na medida em que a sua vinda é conseguida ou assistida por intervenção divina.

Os revolucionários modernos, dos jacobinos em diante, partilham estas crenças, mas, enquanto os milenaristas acreditavam que só Deus refaria o mundo, os revolucionários modernos imaginaram que ele só podia ser remodelado pela humanidade. Esta é uma noção tão forçada como tudo aquilo em que se acreditava nos tempos medievais. Talvez por essa razão tenha sido sempre apresentada como possuindo autoridade da ciência. A política moderna tem sido conduzida pela crença de que a humanidade pode ser libertada dos males imemoriais pelo poder do conhecimento. Nas suas formas mais radicais, esta crença tinha subjacentes as experiências do utopismo revolucionário que definiram os últimos dois séculos".