Antes de mais, cumpre-me agradecer ao Tiago Mendonça o simpático convite para partilhar este espaço com pessoas dos mais diversos quadrantes ideológicos e partidários. Em segundo lugar, devo também saudar todos os colegas de blog, que desconheço mas com os quais tenho a certeza que se gerarão debates frutíferos.
E para começar a lançar alguns temas para a "mesa", começo por me reportar ao que levou o Tiago a convidar-me. Se, por um lado, sou monárquico, por outro, sou de direita, liberal e conservador. Simpatizante, portanto, do PSD e do CDS/PP, dos quais já recebi diversos convites para me filiar. Talvez um dia o venha a fazer mas, por ora, mantenho-me na qualidade de apartidário. Sou, por outro lado, um anti-comunista e anti-socialista primário. Sim, primário, porque tenho como valor supremo a liberdade, coisa que comunistas e socialistas tendem a combater com as suas ideias cheias de boas intenções mas desligadas da realidade, comummente levando ao que Friedrich A. Hayek considerou como o Caminho para a Servidão. Ainda recentemente, no blog que ocupa a maior parte do meu tempo na blogosfera, o Estado Sentido, escrevi sobre como na actual conjuntura do país, os ensinamentos de Hayek se tornam prementes. Percorremos, ao longo destes últimos 36 anos, um lento e inexorável Caminho para a Servidão.
Recentemente, também, escrevi uma carta aberta ao líder do PSD, em réplica a uma carta do Henrique Raposo (aqui e aqui), onde sugeria que Pedro Passos Coelho não desperdiçasse esta oportunidade única para colocar pelo menos um travão - de preferência um ponto final, mas para já, tal parece muito difícil - no descalabro socialista. Escrevi, nesta carta, que um dos valores que está na base do funcionamento dos mercados é o da credibilidade. Independentemente do Orçamento Geral do Estado aprovado (e aquele que o foi é, sem dúvida, muito mau, destinando-se apenas a protelar uma situação insustentável), os credores, que são muito mais racionais que a esmagadora maioria dos portugueses, justificadamente não têm qualquer confiança em José Sócrates. O Primeiro-Ministro não tem qualquer credibilidade, e num sistema político fechado sobre si próprio, bloqueado, constitui-se como o principal problema, e não como uma solução. Por isto mesmo, chegámos a uma triste situação em que apenas uma intervenção externa pode viabilizar a economia do país e credibilizá-lo externamente. Não é que não tenhamos indivíduos à altura para resolver os nossos problemas. Mas estão praticamente arredados dos centros de decisão, estando o próprio sistema numa espiral de degenerescência acentuada, num ambiente, como há uns meses escreveu o Professor José Adelino Maltez, "propício ao neofeudalismo da cunha e do clientelismo, marcado pelo concentracionarismo que é rolo tão unidimensionalizador no capitalismo quanto o era no sovietismo, quando vem de cima para baixo".
O que se tem passado nos últimos dias, é prova disto mesmo e de como as tentativas socialistas de compreender ou domar os mercados não passam de mero wishful thinking, especialmente confrangedor e humilhante para o país quando verbalizado pelo seu principal (ir)responsável, José Sócrates.
Por isto mesmo, triste e infelizmente, chegámos a uma situação em que me parece que apenas uma intervenção externa pode viabilizar economicamente o país, provocando profundas reformas estruturais num sentido liberal, que nos permitam ter um modelo de desenvolvimento sustentável. Essa mesma intervenção acabará, posteriormente, por credibilizar o país externamente. E para aqueles que acenam com o "fantasma do FMI", talvez fosse bom dar uma vista de olhos nos princípios que este considera como imprescindíveis para a consolidação orçamental, de que o reputado economista Carlos Santos dá conta, num blog que decidi criar recentemente, intitulado, precisamente, FMI em Portugal Já.
É que, a continuarmos neste caminho, onde em vez das gerações futuras e da independência do país, é o aqui e agora dos Comensais Interesses Vigentes que toma primazia na desgovernação, apetece dizer, parafraseando Hayek e a famosa expressão que tomou emprestada de Keynes, que "se nos concentrarmos em resultados imediatos, o que certamente estará morto no longo prazo é a liberdade".
Para terminar, deixo apenas uma famosa passagem de Raymond Aron: "O liberal é humilde. Reconhece que o mundo, a vida são complicados. A única coisa de que tem certeza é que a incerteza requer liberdade, para que a verdade seja descoberta por um processo de concorrência e debate que não tem fim. O socialista por sua vez acha que a vida e o mundo são facilmente compreensíveis; sabe tudo e quer impor a estreiteza da sua experiência, da sua ignorância e arrogância".
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